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PÁTRIA MINEIRA“, o nome desta página virtual, foi inspirado no periódico impresso que circulou em São João del-Rei/MG entre os anos de 1889 e 1894, sob a supervisão do corajoso Sebastião Sette Câmara e o notável intelectual Basílio de Magalhães. Este espaço é dedicado à história, cultura, literatura, artes, tradições e da vida quotidiana do nosso Estado, que disponibiliza postagens objetivas, bem fundamentadas, envolventes e significativas, as quais poderão facilitar a compreensão das labutas e dos pensamentos daqueles e daquelas que habitam as Terras Alterosas.

Assim, aos brasileiros ou brasileiras, mineiros ou mineiras, àqueles ou àquelas que adotaram a terra mineira ou por ela foram adotados, aos visitantes ou turistas de terras distantes, o site “Pátria Mineira” propõe-se a oferecer uma jornada enriquecedora sobre os montanheses que habitam estas terras que são muitas, mas, como dissera João Guimarães Rosa, poucos conhecem as suas mil faces.

Num texto publicado em 1957, o escritor Rosa assim descreveu o Estado de Minas Gerais: “Minas é a montanha, montanhas, o espaço erguido, a constante emergência, a verticalidade esconsa, o esforço estático; a suspensa região — que se escala. Atrás de muralhas, caminhos retorcidos, ela começa, como um desafio de serenidade. Aguarda-nos amparada, dada em neblinas, coroada de frimas, aspada de epítetos: Alterosas, Estado montanhês, Estado mediterrâneo, Centro, Chave da Abóbada, Suíça brasileira, Coração do Brasil, Capitania do Ouro, a Heroica Província, Formosa Província. O quanto que envaidece e intranquiliza, entidade tão vasta, feita de celebridade e lucidez, de cordilheira e História. De que jeito dizê-la? MINAS: patriazinha. Minas — a gente olha, se lembra, sente, pensa. Minas — a gente não sabe…”;

O universo mineiro é grande e o que se apresenta neste site, seguindo o pensamento roseano, “é uma pequena síntese, uma encruzilhada; pois Minas Gerais é muitas. São, pelo menos, várias Minas. (…) Se são tantas Minas, porém, e, contudo, uma, será o que a determina, então, apenas uma atmosfera, sendo o mineiro o homem em estado minasgerais? Nós, os indígenas, nem sempre o percebemos. Acostumaram-nos, entretanto, a um vivo rol de atributos, de qualidades, mais ou menos específicas, sejam as de: acanhado, afável, amante da liberdade, idem da ordem, antirromântico, benevolente, bondoso, comedido, ca­nhestro, cumpridor, cordato, desconfiado, disciplinado, de­sinteressado, discreto, escrupuloso, econômico, engraçado, equilibrado, fiel, fleumático, grato, hospitaleiro, harmonioso, honrado, inteligente, irônico, justo, leal, lento, morigerado, meditativo, modesto, moroso, obstinado, oportunidade (dotado do senso da), otário, prudente, paciente, plástico, pa­chorrento, probo, precavido, pão-duro, personalista, perseverante, perspicaz, quieto, recatado, respeitador, rotineiro, roceiro, secretivo, simples, sisudo, sensato, sem pressa nenhuma, sagaz, sonso, sóbrio, trabalhador, tribal, taciturno, tímido, utilitário, virtuoso.”.

Ainda perseguindo a Guimarães Rosa, eu “reconheço, porém, a aura da montanha, e os patamares da montanha, de onde o mineiro enxerga. Porque, antes de mais, o mineiro é muito espectador. O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza. É uma gente imaginosa, pois que muito resistente à monotonia. E boa — porque considera este mundo como uma faisqueira, onde todos têm lugar para garimpar. Mas nunca é inocente. O mineiro traz mais individualidade que personalidade. Acha que o importante é ser, e não parecer, não aceitando cavaleiro por argueiro nem cobrindo os fatos com aparatos. Sabe que “agitar-se não é agir”. Sente que a vida é feita de encoberto e imprevisto, por isso aceita o paradoxo; é um idealista prático, otimista através do pessimismo; tem, em alta dose, o amor fati.”.

Assim, somos atenciosos e hospitaleiros; a filosofia dos mineiros e das mineiras é a da “cordialidade universal, sincera; mas, em termos. Gregário, mas necessitando de seu tanto de solidão, e de uma área de surdina, nos contatos verdadeiramente importantes. Desconhece castas. Não tolera tiranias, sabe deslizar para fora delas. Se precisar, briga. Mas, como ouviu e não entendeu a pitonisa, teme as vitórias de Pirro. Tem a memória longa. Não tem audácias visíveis. Ele escorrega para cima. Só quer o essencial, não as cascas. Sempre frequentado pelo enigma, pica o enigma em pedacinhos, como quando pica seu fumo de rolo, e faz contabilidade da metafísica; gente muito apta ao reino-do-céu. Não acredita que coisa alguma se resolva por um gesto ou um ato, mas aprendeu que as coisas voltam, que a vida dá muitas voltas, que tudo pode tornar a voltar. Até sem saber que o faz, o mineiro está sempre pegando com Deus. Principalmente, isto: o mineiro não usurpa.”

A nossa “mineiridade” se apresenta como um enigma de muitas faces: pode ser resultado da trajetória daqueles que já curtiram com sabedoria todos os estágios da “mineirice” e seria, então, a mineirice evoluída e temperada com muito mineirismo, um modo de viver, através do qual aprendemos filtrar essências, a saber separar o bem do mal, a ser capaz de aprimorar sempre, a gozar a vida sem cometer excessos, a alimentar sem fartar-se, a trabalhar e amar sem promiscuir-se. Creio que o mineiro em estado de plena mineiridade tem os pés bem plantados no chão, vive com parcimônia, gasta apenas o necessário e poupa o que considera supérfluo; não se ilude com o prazer
momentâneo, mas faz esforços para prolongar os momentos de prazer para toda a vida; o mineiro não troca amigos por conhecidos.

O espírito da mineiridade pode ser exemplificado através deste festejado texto popular que é bastante conhecido: “Ser mineiro é não dizer o que faz e nem o que vai fazer, é fingir que não sabe aquilo que sabe, é falar pouco e escutar muito, é passar por bobo e ser inteligente, é vender queijos e possuir bancos. Um bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira no vento, não pisa no escuro, não anda no molhado, não estica conversa com estranhos. Só acredita na fumaça quando vê o fogo, só arrisca quando tem certeza, não troca um pássaro na mão por dois voando. Ser mineiro é dizer “uai”, é ser diferente, é ter marca registrada, é ter história. Ser mineiro é ter simplicidade e pureza, humildade e modéstia, coragem e bravura, fidalguia e elegância. Ser mineiro é ser apaixonado pelo nascer do sol e o brilhar da lua, é ouvir o cantar dos pássaros e o mugir do gado, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida. Ser mineiro é ser religioso e conservador, é cultivar as letras e artes, é ser poeta e literato, é gostar de política e amar acima de tudo a liberdade, é viver nas montanhas, é ter vida interior, é ser gente”.

Aqui está delineado o que é a “Pátria Mineira”, terra daqueles e daquelas que sabem que “o primeiro compromisso de Minas é com a Liberdade” porque “a Liberdade é outro nome de Minas”, como bem disse o são-joanense Tancredo de Almeida Neves ao assumir o governo mineiro, em 15 de março de 1983; por fim,  o que se pretende com esta página é ressaltar que “a tradição cultural de São João del-Rei vem desde a colônia. São João foi um centro de grande importância não só na formação intelectual política de Minas. Ainda hoje, a cidade vive uma atmosfera toda imbuída de intelectualidade, sobretudo de arte. Temos orquestras que resistem ao tempo, algumas delas com mais de 200 anos de continuidade, sem um só ano de interrupção. E não há em São João, mesmo entre os homens do povo, quem não manifeste a influência desse ambiente”, bem assim como Tancredo Neves se manifestara em 06 de janeiro de 1985 numa entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo.

Então, bem-vindos sejam todos ao site Pátria Mineira, o coração pulsante de Minas Gerais na web a partir de São João del-Rei!