Distrito de São Miguel do Cajuru

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Acredito que uma das razões de se preservar uma fotografia (ou qualquer obra artística) é a possibilidade e a felicidade de poder divulgá-la. A divulgação que aqui está sendo feita não tem caráter comercial, é exclusivamente informativa e cultural. Mesmo assim, em respeito ao trabalho de terceiros, por ocasião das postagens das fotografias contidas nesta categoria, esforços foram feitos para que as imagens tivessem os seus reais créditos, mesmo que elas já fossem de domínio público. Mas, muitas das vezes, por serem imagens antigas, a identificação do fotógrafo ou a qual acervo elas pertencem são informações difíceis de serem obtidas; diante destas dificuldades, são colocadas observações de que a fotografia é de autoria desconhecida ou que ignoramos quem seja o seu autor. No entanto, se alguma imagem aqui publicada não atender a estas condições, solicito a gentileza de que as pessoas interessadas se manifestem, fundamentando as suas observações através do e-mail do contato (acima, à direita), para que se possa fazer uma reavaliação, e, se for o caso, proceder as eventuais alterações.

Músicos - Banda de São Miguel do Cajuru
Músicos - Banda de São Miguel do Cajuru

Alguns músicos da Banda Santa Cecília, do Distrito de São Miguel do Cajuru, Município de São João del-Rei - MG. Foto de autoria desconhecida, provavelmente de meados da década de 1960. Em primeiro plano, da esquerda para direita: Lopes, um menino ainda não identificado, Miguel "da Cacândia", "Zé do Zequita", um músico ainda não identificado, José Ambrósio, João Bernardino Ferreira (o " João Menino"), Geraldo "do Zé Ambrósio", e Geraldo Luciano de Ávila (o "Lado da Chácara"). Na parte posterior da imagem aparecem duas pessoas também ainda não identificadas, Sebastião "Brita" (logo atrás do "João Menino"; a pessoa que está em pé, na porta, ainda não foi reconhecida; à direita da foto, de chapéu, está Hildebrando. esta fotografia foi registrada defronte da casa do casal Benedito Freitas de Carvalho & Maria da Conceição de Ávila. A porta onde está a pessoa encostada dava acesso para a "venda do Freitas", nome que se dava a um pequeno armazém ou mercearia, um misto de botequim com ponto de venda de secos e molhados.

Procissão - Distrito de São Miguel do Cajuru (acervo de Osni Paiva)
Procissão - Distrito de São Miguel do Cajuru (acervo de Osni Paiva)

No distrito de São Miguel do Cajuru sempre foi e ainda é tradicional a festa dedicada aos Arcanjos Gabriel, Rafael e Miguel. São Miguel é o mais venerado, justamente por ter nomeado o local e ser também padroeiro do Distrito, sendo dedicado em sua homenagem o dia 29 de setembro, quando uma concorrida procissão, com a sua bela imagem, piedosamente, percorre as humildes ruas do Arraial, com toda a pompa e solenidade costumeiras. Apesar de o dia consagrado ao arcanjo São Gabriel ser o de 24 de março e do arcanjo Rafael ser o de 24 de outubro, estes dois arcanjos são festejados conjuntamente, na festa do mês de setembro, dedicada a São Miguel. Nessa ocasião a imagem dos três arcanjos, além das de outros santos e santas como São Sebastião, Nossa Senhora Aparecida, São Benedito e Santa Cecília também fazem parte da procissão. Lembro-me de que quando criança, à noite, lá pelas oito horas, havia animados leilões de prendas e de gado. Lembro-me de uma pessoa travestida de boi, cabeça com enormes chifres, restante coberto por pano estampado animando e dando carreiras nos mais distraídos e nos meninos: eu pensava que era o coisa ruim e tinha medo até de olhar. Havia bailes (lamentavelmente, áquela época ainda acontecia o "baile dos pretos" e "o baile dos brancos"), folieiros tocando e cantando junto ao mastro de São Miguel, distribuição de cartuchos de amêndoas muito enfeitados e saquinhos de balas com a inscrição "Viva S. Miguel". Tudo terminava com espetáculo pirotécnico e com foguetório, alguns foguetes de lágrimas, bastante coloridos, e uma interessante “roda-de-fogo” que atraía a atenção de toda a meninada, incluindo a mim; mas eu, lá pelo final da década de 1960 e início da de 70, perdia, muitas das vezes, o que para a meninada era considerado o melhor da festa; eu tinha de retornar, a pé, para a fazenda da Congonha, enquanto ainda era dia claro... Então eu lamentava internamente e até chorava bem baixinho, em vão. Restava-me apenas, ao caminhar cerca de uma légua por tortuosos e cobrentos caminhos, ouvir o espoucar dos fogos, ao longe. Chegava na fazenda à noitinha, lavava os pés, ia dormir e até sonhava com as línguas de fogo, com o cheiro da pólvora e com aquela alegria iluminada que, certamente, reinava entre os presentes na festa. Raras vezes, muito poucas mesmo, me era dada a oportunidade de “pousar” na casa de tias ou tios, no Arraial, aonde eu podia observar e aproveitar aqueles folguedos. Na foto observa-se um fiel (ao centro), carregando um estandarte à frente do séquito processional, passando por baixo de uma arco de bambu; à esquerda, uma das humildes casas da chamada "Rua de Trás" do distrito cajuruense. A foto é da década de 1970, provavelmente.

Sede da Fazenda da Congonha (foto de Ana Maria de Ávila)
Sede da Fazenda da Congonha (foto de Ana Maria de Ávila)

A sede da fazenda ficava situada a cerca de uma légua da sede do distrito são-joanense de São Miguel do Cajuru; foi construída na primeira metade do séc. XX, por iniciativa de José Colombo de Ávila (1913-1990), sendo empreiteiro da obra o sr. João Bernardino Ferreira (vulgo João Menino). A casa foi demolida em 1994, infelizmente. Foi nesta casa que nasceu José Antônio de Ávila Sacramento (fotografia do ano de 1980).

Termo da bênção da Capela do Cajuru (acervo da Paróquia do Pilar)
Termo da bênção da Capela do Cajuru (acervo da Paróquia do Pilar)

No documento está escrito: "Fra.co (Francisco) X.er (Xavier) da Costa Fialho, Sacerdote do habito de S. (São) Pedro. Certifico (...) em o dia oito de Junho de 1760 a vizita a Capella de S. (São) Miguel do Cajuru cita nesta Freg.ª (Freguesia) de N. S. do Pillar da villa de S. (São) de El Rey, e achando a {cappela} decente, e paramentada com todos os ornam.tos (ornamentos) das [...] a benzi, e o adro q’ (que) se acha sercado, o qual {te} [...] fronte espicio da Capella oitenta e sinco palmos {de} compri {...} e sento e vinte coatro palmos de largo; e da [...] parte da Epistola tem trinta e trez {palmos} {...} a par [...] do {Evangelho} outros trinta e trez, e {por} [...] (...) tem vinte e sete palmos de comprido e a {mesma} largura do fronte espicio; o que tudo fiz na {forma} do Ritual Romano com asistencia dos {Reverendos} Sacerdotes o R.do (Reverendo) P.e Manoel (...), e o R.do (Reverendo) P.e {João} Pinto de Magalhaes, e o R.do (Reverendo) P.e Goncallo Ribr.º (Ribeiro) {Bri} e com licenca de Sua Ex.ª (Excelência) R.ma (Reverendíssima) e p.ª (para) constar {graphei} esta (17) certidão, e se nesessario for a juro em verbo sacerdotis (18) Cajuru {de} junho 8 de 1760 a o P.e Francisco Xavier da Costa Fialho" - (Foto de Osni Paiva - Reprodução de documento do arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei - MG - Tanscrição de Oyama de Alencar Ramalho). Assim, para comemorar bem os dois séculos e meio de sua igreja, a comunidade do Distrito de São Miguel do Cajuru preparou diversas celebrações religiosas e profanas, a partir do dia 05 de junho, culminando com o dia maior da comemoração, em 08 de junho de 2010, quando uma procissão, saindo do “Cajuru Velho”, foi até a Matriz atual. Logo depois houve celebração de missa com a participação de vários padres e do Bispo Diocesano, seguindo-se um almoço de confraternização; à noite, encerrando-se as festividades, aconteceu apresentação de orquestra e show de música sertaneja. Comemorar 250 anos de existência num país que ainda há pouco completou seus 500 anos é uma efeméride de sumíssima importância. É também um fato relevante quando se toma por base que São João del-Rei, a sede do nosso Município, ainda completará seus 300 anos de elevação a vila daqui a três anos. As raízes do povoamento do arraial bandeirante de São Miguel do Cajuru, assim como a dos nossos outros distritos, confundem-se com as da urbe de São João del-Rei. Então, acredito que lembrar uma data histórica como esta é a oportunidade para se recuperar fatos e combater o esquecimento, para se privilegiar as memórias coletivas e individuais, para se resgatar paisagens e datas, para se reviver tradições, para se distinguir figuras e acontecimentos que fizeram parte desta história. Creio que celebrações como estas são relembramentos que muito favorecem o entendimento e a constituição da nossa contemporaneidade.